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ALQUIMIA SINISTRA
A úmida e verde floresta amazonense
A seca medrosa e rachada do árido cearense
Os negros cabelos da índia bebendo o vento solar
As danças que as ciganas vestem à noite do luar
As cintas elegantes das pintoras chinesas
As gravatas croatas das Baronesas
A sanha ermitã do cavaleiro mongol
O deambular tranquilo do lavrador russo
E o profundo oceano azul aos olhos do anzol
Um menino argentino de bruços
Um velho tailandês com soluços
Arcadas de dinossauros que já não sabem mais viver
Sedimentos de peixes dourados que acabaram de morrer
A abstração mais viva do conhecer
A tragada do Universo que não se pode dizer
A suntuosidade dos castelos europeus não é tão rara quanto a pele arrepiada do mundo conectada ao seio da Virgem
Velas, valas, chistes, chifres, cobras e cabras
O pensamento do monge budista vem ao encontro do farfalhar da borboleta e une o material ao imaterial
União também presente na alquimia dos sabores transformados pela variação térmica das velhas panelas de barro
O bebê e seu simples catarro
A cola do menino do primário que junta ao papel uma figura qualquer
A tarefa compenetrada e absorta no simples viver de um segundo
O voo rasante da águia bem fundo
As línguas e suas variações
A linguagem e seus significados
Quase tudo é percebido
Mas pouco entendido
E nas palavras achamos poucos sentidos
Mais rótulos
Que ecoam nos ouvidos das crianças tão puras
Ou das velhas que já usam dentaduras
Vai vendo essa transformação velada
Essa conexão sinistra
Um passo para o abismo
Uma caverna mais velha que todos
Uma estalagmite mais consciente que muitos
Deste chão pouco se leva. Muito se pisa
As batalhas dos bravos guerreiros
A paz do canto matinal das lavadeiras de roupa no rio
Não é estranho a gravidade puxar para baixo e a vida te jogar para cima?
Os pratos prateados
De alimentos não nutridos
A hipocrisia pura
A acusação da própria loucura
A injustiça do juiz
Tudo contradiz.
Toda palavra que acusa mata a si mesma
Na vã tentativa de descarregar a vaidade
Desconsiderando a totalidade
Como quem vai e fica
Preso no círculo
Você vai ver que tudo caminha a um ponto
Que tanto deságua num mar, conquanto contraditório
Sem ciência, difícil.
Só ciência, impossível.
Quiçá doses de arte, malasartes!
Mundo abundante. Milhões de abelhas.
Muitas servas
Uma só rainha
Liberdade ou autoridade?
Apenas tudo voltando a si
Como nós voltamos ao mundo
Como o mundo nos gera de novo
Dentro do ovo
E nessa saga pela qual passamos
Rezamos com a fé inabalável
Do porvir
Do orvalho da manhã
Do cantar do galo
Da lâmpada acesa para acordar o menino,
avisando que já é dia.
Aqui ou no Japão.
Do pão saindo do forno
Do leite fervendo ao fogo
Do sinal da cruz
Do primeiro passo no campo
Ou na Estação da luz
Da música a que nos propusemos a cantar
dançar
Girar
Como as saias rodadas das ciganas na noite de luar
VÁ (SE) ENCONTRAR
Em Minas Gerais
Na minha cidade
Tem um fim que é um começo
No morro da rua onde moro
Tem um senhor que se chama Pedro
Converse com ele
Não precisa de aviso
Mas tenha juízo
Esqueça pressa para chegar
Só peça licença para entrar
Aja naturalmente
Exponha as dúvidas da mente
Não busque respostas
Ouça propostas
Lá vai se preparar e observar
O que não costuma enxergar
Que a vida é muito mais
Que tem mistério nas coisas escondidas
A barba do velho é preta e branca
Sua sabedoria, colorida
Vai lá no morro da rua
Onde o fim encontra o começo
Onde você encontra a si mesmo
NEM MESMO
Nem o colar mais bonito
Nem a praia paradisíaca
Nem o tigre mais belo
Nem a pedra mais cara
Ou a sorte mais rara
Se compara a sua Áurea
Beleza e encanto
É desenhada ou um canto?
Não sei...
Mas nem Da Vinci e Pavarotti
Sabiam se expressar tanto quanto eu perto de ti
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