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POEMAS

Metapoesia

No lusco-fusco
Vemos um pássaro
Voa e vai
Voa e volta 
Por que vai se volta?
Voo dele é poesia
Não há lugar para chegar
É passeio para tomar um ar

A. Furtado

Cromatografia 

acho que fazer poesia

é descrever o voo do urubu

sem entender nada

da aerodinâmica do urubu

ou falar profundamente

do cheiro da laranja

sem a cromatografia

ou então é colocar a palavra cromatografia

num poema

(Por Marcelo Rijo)

Amnésia

Eu tive um pensamento lindo

um dia desses

Mas esqueci

(Por Marcelo Rijo)

Poesia viva

 

Quando

Michelangelo pegar o pincel

Juan Roman pisar a pelota

Santana afinar a guitarra

Adele aquecer a voz

Edson pegar impulsão

Quintana tocar a caneta

Em um papel de pão

E Rui subir à tribuna

Só com a voz e o pulmão

Prepare-se

Suspire

A poesia vive

O sentido volta

O tempo some

A beleza sopra

Não há pátria

Tem tango e samba

Sombrero

Bearskin hats

Deus se emociona

Avisa São Pedro

Tlaloc

E aí, meus amigos

Chove forte

A. Furtado

O Dia D 

 

o dia d chegou

no mês m da semana s

e no minuto m.

assim como no segundo s se manifestou

em toda sua plenitude

o tédio t

a mesma coisa c e todas as cotidianas besteiras bs

(Marcelo Rijo)

Tomada 

 

vai vendo meu peito

minha sombra

as pegadas invisíveis

e pensando no que disse

talvez um oi

ou um pensamento simples

uma pergunta

uma piada pela metade

e vai tendo a reação esperada

um despeito

raiva

dúvida

achado

graça

mas pensa bem

no que estive

fazendo aqui

ou então pega 

o próximo ônibus

e vai pra casa

dormir

(Marcelo Rijo)

Na viu

 

era navio de casco furado

pouco descascado.

na proa

quase voa

a bordo

quase aborta.

há muito navega às cegas

até vir o sol  

apontar o farol

sem saber se há sal no mar

o mestre mediu o mastro

devagar

moveu

amou ver

a onda que anda

desmanda e comanda

desmonta e remonta

o comandante

se perdeu

doeu

o capitão apitou

ele acordou

um cachimbo pitou

e soube

sem saber muito bem

que o navio 

estava meio lento

mas em movimento

A. Furtado

Último grito

Tenh'alma grande

Gritou o velho

enquanto cortava a unha

Sentado pela calçada

A. Furtado

Transform ar

Ela, tão criança,

contou-lhe

que nada some

só não vemos

A. Furtado

Tralhas jogadas

Ele juntou tralhas durante anos

No depósito ao fundo do quintal

Livros antigos e pedaços de madeira

Cabos de aço e caixas de papelão

Cacos de vidro e porcelanas trincadas

quem sabe um dia 

voltaria

ao aposento

e reuniria

cada começo a cada fim

Um prego ao triz de madeira

como se um pedisse mais perto

como se a vida fosse mais certa

mas por enquanto

assim como aquele quarto

era mil pedaços jogados

sem muito sentido

A. Furtado

Açodado

Deveras desenfreado alcançaste o ponto neural
descobriste a galáxia longínqua no alvorecer
Travaste batalhas capciosas com tua própria mente
Sentiste um inchaço do viver
Completaste um quebra-cabeça ficando doente
das frivolidades por meio de tua presunção
de que a vida, embora vivida, não revida
Serias fácil como limpar o vaso cristalizado
Pois é, das novelas e novenas
que contaste e rezaste
não proferiste palavras desencantadas
mas só versos desconcretizados da realidade
formados unicamente na abstração
Este é o grande equívoco
achaste que seria grande sem o sê-lo nas pequenas coisas que flutuam em nossa rotina, refletindo na nossa retina
deixaste para outro senhorio esta tarefa hercúlea
de cuidar dos  detalhes teus personificados, exagerados na impaciência
Eras mais uma vez... lembraste do contos infantis? Principalmente dos três pequenos suínos?
O que preparaste com tijolo e cimento, embora tendo demorado, sustentaria por mais tempo
Mas que tempo é esse que não encontraste?

A. Furtado

Campos minados de Piratininga

Riachos e brejos

Dentro de galerias

Caronte

Desconectado

com o meio.

escafandro descartável

em calçadas decrépitas

A rua um monte parnaso

os fios elétricos desabam e me ameaçam

medo

do Propósito

O calor me deixa insone

A realidade freia sinais

Por algumas horas

sem ver os defeitos dos motoristas

sem ver erro no capitalismo selvagem

sem olhar os posts do Facebook

II

desviei de cadáveres

ao retornar da missa das 4

o necrochorume não foi recolhido

pelo serviço privado de limpeza pública

tripas secas grudadas no piso irregular.

Intestino

ao bar amargura

Um rato amassado e a pele seca ao sol

Marcelo Rijo

Pense bem

Olhando à lua,

ele pensou bem

Que não há linha reta

Só linha curva

Porque a terra é redonda

E gira o mundo

A. Furtado

Universo paralelo

No universo paralelo em que me encontro

Paralelamente vivo

Acho que é melhor pensar que isso não é realidade

Pois tudo que vejo se resume a calamidade

Valores invertidos, sentimentos positivos subtraídos

Ódio e rancor, parece que é tudo o que sobrou

O pecado vem se alimentando de tudo que alimenta o Amor

Acabando com os sonhos da alma que um dia brilhou

Mesmo diante desse revez a esperança brotou

E uma pequena semente numa linda Flor se transformou

André Duarte

Dogs at Night
Playing the Flute

Bacharel de coisa nenhuma

É um tropeiro de vagalumes

Que finge conduzir muares invisíveis

Causando deleite no convés

Do caixão das formigas,

A Terra.

Semi-parnasiano

Trêmulo-estanque

Absorto no nada

Em coisa nenhuma

Descabido

É um Zeus trôpego

Tem birra de doutor

Tem fé filantrópica

Ébrio e vil

Camuflado - Rei do Mimetismo

Parece de antanho

Causa quimera

Germina sonhos-pigmeus

Desanima gregos e troianos

Um quietista

A. Furtado

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